“O nevoeiro dá, às coisas, aspectos maravilhosos e tudo aquilo de que temos certeza absoluta jamais são reais” (Oscar Wilde)
RELEASE DO ESPETÁCULO
“Tudo que temos são três atores em cena, apresentando/ interpretando A, B e C com quase nenhum figurino, sem cenários e iluminados por precários candeeiros à vela. Movimentos e cenas transitam num terreno movediço que pode - ou não- ser de sonho, dor, ilusão, entrega, medo, desejo, quem poderá afirmá-lo ao certo? Juntos, mergulham nas profundezas das águas límpidas ou turvas que o espectador traz consigo, porque muito provavelmente é lá, em algum lugar das águas subterrâneas deles mesmos, em algum lugar de si que encontraremos respostas para olhar a vida como espelho vazado que é.
O texto (pretexto), atravessa o "ser ator" chegando à platéia por meio desta travessia feita a remo pela voz, como um raio que se refrata multiplicando- se quando tocá-la como luz multiforme contida em cada espectador diante de nós. O ator é este prisma que possibilita as mais variadas formas possíveis de dizer em cena, onde e como a ventania deste nevoeiro interpretativo nos projeta. Diferente de um espelho que apenas reflete, o intérprete acolhe a fala, sua e do outro, a reelabora na memória corporal e sonora presente no seu tempo vivencial, devolvendo-a com outras camadas carregadas de sentidos. É como uma teia que atravessada pela luz do sol, deixa vazar o feixe de luz, mas que dependendo da hora e do estado da mesma, este feixe vai ter tons e formatos variados.
Mas o que existe entre o momento em que a luz é acolhida e o momento em que ela é devolvida ao espaço? O que se passa entre a primeira leitura do texto e o momento em que ele é dito ao espectador? O que permite as alternâncias na interpretação de um mesmo texto, dito pela mesma pessoa? Que opções são feitas ou que fatos acontecem para que este dizer teatral de um mesmo texto, dito pelo mesmo/ ou não ator possa mudar tantas vezes? E como o texto pode ser sempre outro a cada nova pronúncia, sendo sempre ele mesmo?
Em algum lugar de mim é um encontro marcado com essas possíveis respostas com outros adendos e novas inquietações [...]”
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